15.8.14

A filosofia espírita

Allan Kardec, embora não ter sido propriamente um filósofo teve a grandeza intelectual de jamais “fechar” o pensamento espírita em torno de uma “verdade única” e dogmática. Esse é um caráter intrínseco do discurso filosófico: a liberdade de pensamento, aberto à reflexão e ao progresso das ideias.
O Espiritismo, portanto, na medida em que busca explicar a realidade através da razão e da lógica, utiliza-se de um discurso filosófico. Todavia, a filosofia espírita, inaugurada em O Livro dos Espíritos, não traduz uma simples reflexão intelectual para criar sentidos ou significados, ao contrário, a filosofia espírita, é um saber que se justifica com base nos fatos. Ao analisar o conjunto de sua obra, veremos que Kardec não partiu da “crença”, mas da sólida pesquisa, no campo da mediunidade, para, num segundo momento, enveredar pelos caminhos da interpretação dos fatos, com base no crivo da razão. Disso surgiu a filosofia espírita inserida, inicialmente, em O Livro dos Espíritos.
Kardec afirmou que: “... o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós.” 1 Bem se percebe que essa doutrina não se limita, simplesmente, a produzir um conjunto de reflexões teóricas. Seu foco é tornar-se uma filosofia prática, capaz de contribuir de forma natural para o melhoramento humano, individual e coletivamente.
Compreendendo melhor, embora não totalmente, as estruturas da vida, o ser humano passa a enfrentar mais conscientemente as vicissitudes e adversidades, percebendo nelas, de um lado, o reflexo natural daquilo que ele pode estar semeando e, de outro, os desafios evolutivos que lhe cumpre enfrentar. Os desafios estimulam, no sujeito, o desenvolvimento de forças insuspeitadas que nele estavam latentes.
Kardec foi um defensor da dialética, do argumento, do debate de ideias necessárias à construção do conhecimento e da própria fé. O Espiritismo, dizia ele, não impõe uma crença cega, pois deseja que a fé se apoie na compreensão. Por isso, deixa a cada adepto inteira liberdade de examinar seus princípios e aspectos doutrinários. Doutrinários sim, mas não “doutrinantes”. Assim, também, a racionalidade empregada aos estudos espíritas deve servir para que os seus conteúdos nos levem a um encantamento, no bom sentido do termo, pela vida.

Jerri Almeida
Presidente


1 O Livro dos Espíritos. Introdução, item XIII. 

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